sexta-feira, 31 de dezembro de 2010
bia
O bar era perto. Passava das 23h. Os dois precisariam acordar bem cedo mas, bia bebia e
Balançava a cabeça, o pescoço, os quadris, o corpo todo em sintonia com a música frenética, e falava, e gritava, e repetia ao mesmo tempo:
-Será que a dança é algo pra fazer a gente não se envelhecer?
Ele ficara todo o tempo sem dizer nada, com os olhos fechados, rodopiando no compasso da velha amiga que, sorrindo , passaria a pensar naquilo pra sempre.
Naquele momento ela sussurra maliciosamente no ouvido dele :
- É... acho que você concorda comigo.
texto e foto : isaias
sexta-feira, 24 de dezembro de 2010
quinta-feira, 23 de dezembro de 2010
ah, o azul
poema : Stéphane Mallarmé
foto : isaias
L'Azur
Do azul eterno a serena ironia
Esmaga, indolentemente bela como as flores,
O poeta impotente que maldiz o seu gênio
Através de um deserto estéril de Dores.
Fugindo, de olhos fechados, sinto-o a olhar
Com a intensidade de um remorso aterrador,
Para a minha alma vazia. Para onde fugir? E que noite perturbada
Lançar, farrapos, lançar sobre este desprezo aflitivo?
Nevoeiros, subi! Deixai cair as vossas cinzas monótonas
Com longos trapos da bruma nos céus
Que afogará o pântano lívido dos outonos
E erguei um grande tecto silencioso!
E tu, sai dos charcos letianos e recolhe
Ao regressares, a jarra e os pálidos juncos,
Caro Tédio, para tapar com uma mão nunca cansada
Os grandes buracos azuis que os pássaros fazem maldosamente.
E mais! que sem cessar as tristes chaminés
Fumeguem, e que de fuligem uma errante prisão
Extinga, no horror das suas negras linhas,
O sol morrendo amarelado no horizonte!
-O Céu está morto. -Em tua direcção, refugio-me! dá, ó matéria,
O esquecimento do Ideal cruel e do Pecado
A este mártir que vem partilhar a liteira
Onde o gado dos homens está deitado feliz,
Porque eu quero aí, uma vez que o meu cérebro enfim, esvaziado
Como um maço de palha caído ao pé de uma parede,
Já não tem a arte de dourar a ideia soluçante,
Lugubremente bocejar num passamento obscuro...
Em vão! O Azul triunfa, e ouço-o a cantar
Nos sinos. Minh'alma, ele faz-se voz para mais
Nos meter medo com a sua vitória maldosa
E do metal vivo sai em angelus azuis!
Ele rola pela bruma antiga e atravessa
A tua agonia nativa tal como um gládio seguro
Para onde fugir nesta revolta inútil e perversa?
Estou assombrado. O Azul! O Azul! O Azul! O Azul!
Stéphane Mallarmé
segunda-feira, 20 de dezembro de 2010
Adalberto queria tirar fora e não voltar com nada naquele apartamento semi-escuro e lúgubre. “É necessário deixar tudo fora”. Pensava, seriíssimo, com a testa contraída e as sobrancelhas serradas. Ele queria deixar uma sensação de vazio para colocar somente a vitrola no chão, rodando una furtiva lagrima*. E continuava a pensar com seus botões: “Se eu tivesse um infarto agora seria um pouco mais dramático e um pouco menos patético que aqueles que odeiam poesias e operas.”
*opera: una furtiva lagrima. De Gaetano Donizetti
isaias
*opera: una furtiva lagrima. De Gaetano Donizetti
isaias
sábado, 18 de dezembro de 2010
Breviário di’versos
1.
quero a palavra disforme
análoga à forma das nuvens
prenúncio de coisas tardias
vazio sem nome –
buraco negro a engolir estrelas.
quero o verso vazio
poesia de coisa nenhuma
silêncio em seu contrário
vazio sem nome –
Sputnik a vagar no espaço.
quero o regresso à terra
o abraço do solo escuro
anúncio de coisas inúteis
vazio sem nome –
Morte a engolir a vida.
poema : flávio offer
foto : isaias
terça-feira, 14 de dezembro de 2010
quinta-feira, 2 de dezembro de 2010
domingo, 28 de novembro de 2010
mímesis
quarta-feira, 10 de novembro de 2010
uma cantora que da gosto de ouvir.
As coisas não precisam de você
Quem disse que eu tinha que precisar
As luzes brilham no Vidigal
E não precisam de você
Os dois irmãos também não ..... precisam
O hotel Marina quando acende
Não é por nós dois
Nem lembra o nosso amor
Os inocentes do Leblon
Esses nem sabem de você (nem vão querer saber)
E o farol da ilha só gira agora
Por outros olhos e armadilhas
Outros olhos e armadilhas
Outros olhos e armadilhas
http://www.vagalume.com.br/marina-lima/virgem.html#ixzz14uo7HZhG
sexta-feira, 5 de novembro de 2010
quarta-feira, 3 de novembro de 2010
Samba Erudito ( paulo vanzolini)
Andei sobre as águas
Como São Pedro
Como Santos Dumont
Fui aos ares sem medo
Fui ao fundo do mar
Como o velho Picard
Só pra me exibir
Só pra te impressionar
Fiz uma poesia
Como Olavo Bilac
Soltei filipeta
Pra ter dar um Cadillac
Mas você nem ligou
Para tanta proeza
Põe um preço tão alto
Na sua beleza
E então, como Churchill
Eu tentei outra vez
Você foi demais
Pra paciência do inglês
Aí, me curvei
Ante a força dos fatos
Lavei minhas mãos
Como Pôncio Pilatos
Como São Pedro
Como Santos Dumont
Fui aos ares sem medo
Fui ao fundo do mar
Como o velho Picard
Só pra me exibir
Só pra te impressionar
Fiz uma poesia
Como Olavo Bilac
Soltei filipeta
Pra ter dar um Cadillac
Mas você nem ligou
Para tanta proeza
Põe um preço tão alto
Na sua beleza
E então, como Churchill
Eu tentei outra vez
Você foi demais
Pra paciência do inglês
Aí, me curvei
Ante a força dos fatos
Lavei minhas mãos
Como Pôncio Pilatos
domingo, 31 de outubro de 2010
Reflexão: Caráter Público e Objeto da Educação (Aristóteles)
Hoje marca a data da primeira presidente mulher(Dilma Rousseff) da história do Brasil. Deixo meu contentamento em ver eleita uma candidata que, acredito, trará ao menos uma pseudo distribuição de renda (palavras minhas, que fique claro). Compartilho também um trecho do Aristóteles que, na minha opinião, deveria ser levado mais a sério pelos governantes do nosso país:
"Em suas diversas fases, a educação das crianças se revela um dos primeiros cuidados do legislador. Ninguém o contesta. a negligência das cidades sobre esse ponto é-lhes infinitamente nociva."
Aristóteles, A política. São Paulo, Martins Fontes, 2006. Pag: 77. tradução de: Roberto leão Ferreira
"Em suas diversas fases, a educação das crianças se revela um dos primeiros cuidados do legislador. Ninguém o contesta. a negligência das cidades sobre esse ponto é-lhes infinitamente nociva."
Aristóteles, A política. São Paulo, Martins Fontes, 2006. Pag: 77. tradução de: Roberto leão Ferreira
sexta-feira, 22 de outubro de 2010
quinta-feira, 21 de outubro de 2010
terça-feira, 19 de outubro de 2010
três pérolas poético-vegetarianas de henrique pimenta
1.
Só mais um cupom -
repito meia palmito,
meia champignon.
2.
Num restaurante vegan:
"Aqui, até as moscas são verdes!"
3 (vírgula alguma coisa).
Carne? Nem a pau!
Uma salada completa,
arroz integral.
Só mais um cupom -
repito meia palmito,
meia champignon.
2.
Num restaurante vegan:
"Aqui, até as moscas são verdes!"
3 (vírgula alguma coisa).
Carne? Nem a pau!
Uma salada completa,
arroz integral.
segunda-feira, 11 de outubro de 2010
domingo, 10 de outubro de 2010
quarta-feira, 6 de outubro de 2010
domingo, 3 de outubro de 2010
um poema de flávio otávio ferreira
Uma ocasião qualquer
Na falta de sorrisos,
Grito alto, me descabelo,
Me arranco o chão,
Me jogo num abismo,
Abro os braços
E aterriso.
Antes que uma lágrima escorra,
Corro contra o vento,
Corro contra o tempo
E me arrasto por guetos
De sombras.
Antes que a morte venha
Compreendo a dor do mundo;
Levo um sorriso para as crianças
E um aparelho de barbear
Para qualquer outra ocasião
flavio otávio ferreira, do livro: itinerário fragmentado
Na falta de sorrisos,
Grito alto, me descabelo,
Me arranco o chão,
Me jogo num abismo,
Abro os braços
E aterriso.
Antes que uma lágrima escorra,
Corro contra o vento,
Corro contra o tempo
E me arrasto por guetos
De sombras.
Antes que a morte venha
Compreendo a dor do mundo;
Levo um sorriso para as crianças
E um aparelho de barbear
Para qualquer outra ocasião
flavio otávio ferreira, do livro: itinerário fragmentado
quarta-feira, 29 de setembro de 2010
chuva quase o dia todo, mas o café com letras ficou com brilho de estrela por causa da bárbara lia, lançando o seu livro constelação de ossos
segunda-feira, 13 de setembro de 2010
lançamento do novo livro da escritora e poeta bárbara lia no café com letras
domingo, 12 de setembro de 2010
a traição de eurídice
Agora, só me resta seguir em frente, tentando não olhar para trás. Daqui em diante, ela será apenas mais uma sombra, fadada a desaparecer, mesclando-se à escuridão das minhas memórias mais traumáticas. Eu cruzaria o inferno por ela, mas, por mais que me esforçasse, nunca a perdoaria.
por : rodrigo domit
por : rodrigo domit
4 haicais
no rio abaixo
seu leitmotiv :
a foto da musa
---------------------------
um átimo :
a pétala do ipê ao vento
até o chão
---------------------------
melhor o ar
quando se
está no mar
---------------------------
no meio da madrugada
dois amigos bêbados
cantam abraçados
haicais : isaias
seu leitmotiv :
a foto da musa
---------------------------
um átimo :
a pétala do ipê ao vento
até o chão
---------------------------
melhor o ar
quando se
está no mar
---------------------------
no meio da madrugada
dois amigos bêbados
cantam abraçados
haicais : isaias
terça-feira, 7 de setembro de 2010
domingo, 5 de setembro de 2010
sexta-feira, 3 de setembro de 2010
quarta-feira, 1 de setembro de 2010
esperam feito tantos. os filhos saem um a um da janela.
ele acompanha circunspecto o adeus da existência que pode lembrar.
depois também sai, e caminha em pedregosas ruas sem nível.
agacha, pega um ramo, e tenta discordar de nietzsche
mais uma vez que divina é a arte do esquecimento.
lentamente a tarde acaba.
isaias
ele acompanha circunspecto o adeus da existência que pode lembrar.
depois também sai, e caminha em pedregosas ruas sem nível.
agacha, pega um ramo, e tenta discordar de nietzsche
mais uma vez que divina é a arte do esquecimento.
lentamente a tarde acaba.
isaias
segunda-feira, 30 de agosto de 2010
quinta-feira, 26 de agosto de 2010
domingo, 15 de agosto de 2010
quarta-feira, 4 de agosto de 2010
uma fala dura sobre o amor é necessário
"O amor é a mais negra das pestes, mas ninguém morre de amor, e quase sempre passa." trecho do filme o sétimo selo, de ingmar bergman
Há nas entrelinhas do amor uma
Infinita tristeza
Escondida em silêncio
Há alguns dejetos que
Ela (a tristeza) guarda, e, não joga
Fora nada:
Longos sorrisos e lágrimas junto
Fome de afetos
Desprezos
Aniquilamentos
Pausas carinhosas carcomidas
[i n d i s c r i m i n a d a m e n t e.
Mesmo entre flores multicoloridas
Exalando cheiros
poema : isaias
"O amor é a mais negra das pestes, mas ninguém morre de amor, e quase sempre passa." trecho do filme o sétimo selo, de ingmar bergman
Há nas entrelinhas do amor uma
Infinita tristeza
Escondida em silêncio
Há alguns dejetos que
Ela (a tristeza) guarda, e, não joga
Fora nada:
Longos sorrisos e lágrimas junto
Fome de afetos
Desprezos
Aniquilamentos
Pausas carinhosas carcomidas
[i n d i s c r i m i n a d a m e n t e.
Mesmo entre flores multicoloridas
Exalando cheiros
poema : isaias
segunda-feira, 2 de agosto de 2010
na mesa de um bar
de tantas brincadeiras e tantas distrações
nos perdemos e continuamos falando e
reconhecendo tudo como uma grande
responsabilidade de estarmos dizendo a
realidade
e a maior e mais intelectual brincadeira nesta
mesa anti-introspectiva de bar, neste dia ou
noite, é talvez discutir persona do bergman
isaias
de tantas brincadeiras e tantas distrações
nos perdemos e continuamos falando e
reconhecendo tudo como uma grande
responsabilidade de estarmos dizendo a
realidade
e a maior e mais intelectual brincadeira nesta
mesa anti-introspectiva de bar, neste dia ou
noite, é talvez discutir persona do bergman
isaias
domingo, 1 de agosto de 2010
sexta-feira, 30 de julho de 2010
pouca convivência?
-é relativo ao quê mesmo?
-ao signo que podemos tatear.
-signo? tatear?
-é.
-peraí, cê tá me testando?
-não.
-olha, eu só queria era me casar de vestido de noiva sem ter que ser embromada por um teórico que acaba por não dizer diretamente o que quer.
-benzinho, não é que eu não queira me casar nesses padrões, é só um argumento...
ela cantarola:
-tá legal, eu aceito o argumento, mas não mude o samba tanto assim...
ele pisa um pouco mais duro que o normal indo escolher um filme na estante.
-poxa vida, não tem filme que preste aqui?
-eu sou uma mulher bem senso comum, eu sei, mas também sei conhecer algo do outro após uma semana.
foto e miniconto : isaias
quarta-feira, 28 de julho de 2010
miniconto
terça-feira, 20 de julho de 2010
um conto da menina "estranha"
Era calada. Falava demais. Ou 8 ou 80. Que as frutas tinham fibras, que doces eram as uvas, que a banca estava cheia de mentiras. Dizia e ficava calada. Em casa, na escola, no ônibus. Por horas, dias, semanas. Não era por nada não, era por puro desinteresse mesmo.
-bom isso é bom. Não deslumbrar-se com as coisas do mundo é sempre bom.
Dizia um sujeito no bairro.
E ela ao ouvir, entortava levemente a boca, levantava uma das sobrancelhas, e cobria o rosto com as duas mãos.
Tudo vindo daquela menina era de se estranhar, porque todos eram iguais entre si e diferentes dela. E ninguém ao olhá-la, sabia o porquê de nada.
foto e conto : isaias
domingo, 18 de julho de 2010
um conto do renato sampaio
METÁFORA
Quando a relva florescia nos campos e os primeiros pássaros começaram a cantar nos arvoredos, surgiu em uma planície cortada por um riacho de águas límpidas uma jovem correndo pelos caminhos que ao longe apontavam.
Soltas ao vento, suas vestes, curtas, leves, transparentes, encobriam formas de tal modo perfeitas que, diante delas, a ninguém seria dado resistir aos delírios que, nesses casos, antevendo relva e luz, em desejos vêm ao ar, em volúpias se avolumam.
Caindo-lhe pelos ombros, seus cabelos flutuavam ao sabor da brisa e, seus passos, fortes, velozes, instantâneos, obedeciam a razões que, por tão pouco virem ao caso, delas aqui não se falará.
Reclinando-se à sua passagem, as flores, múltiplas, intensas, alvissareiras – girassóis, lírios, margaridas, alecrins –, rendiam-lhe graças, homenageavam suas formas: estação em cores, a própria cor.
– Em boa hora – murmuraram –, seus passos a conduziram até nós. Seja bem-vinda, os deuses a guiarão.
Claro que flores, quando chegam a murmurar, longe está de serem flores porque, a elas, no máximo, são atribuídas certas metáforas e metáforas, na realidade, jamais tiveram voz ou se fizeram ouvir. Mas, se não eram flores, eram, contudo, marginais escondidos entre elas. Pior: marginais movidos a droga, ávidos por novas doses e, àquela altura, em plena fuga de uma penitenciária localizada nos arredores. Exceção para o mais novo, que não dependia de drogas, sequer cumpria pena, mas, ativista inconseqüente e chegado ao que viesse, havia se juntado ao grupo sem que se soubesse bem por quê.
O que a seguir aconteceu não teve testemunhas; ou melhor, um único, raro pássaro, presenciou. Afastados, há muito, do convívio com outros seres – homens, mulheres, a vida, enfim –, aproximaram-se então da moça, cativaram-na, passaram-se por bons, ofertaram-lhe pouso, rosas, informações:
– A trilha é esta, não se preocupe. Nossos olhos serão os seus.
E Marcelina – era este o nome dela –, aquiescendo, assentou-se entre eles, disse sim, contem comigo, não vou decepcioná-los. E conversaram, traduziram-se, enturmaram-se. Olhos nos olhos, alegres, o prazer de estar ali.
Depois, seguiram em frente.
Mais ao longe, tarde a prumo, noite à vista, acamparam-se:
– Durma ali, gentil menina, velaremos o seu sono. Durma, durma, que o perigo passa ao longe. Afastaremos as serpentes, os azedumes, o próprio demônio, se existir, e as aves de rapina; aqui está uma.
Ingênua, tão bonita, quem diria, Marcelina acreditou. Acreditou e adormeceu. E acercaram-se, um a um, a seu redor; e apalparam-na, viajaram, foram além: um delírio. Noite adentro, sem limite ou exceções; afora o aqui não dito. E com tal cuidado que Marcelina, despertando, agradeceu-lhes, sonhou com os anjos, confessou: eu sou vocês.
Pela manhã, bem cedo, à cata dos fugitivos, alguns de seus iguais, incumbidos de abatê-los, chegaram de mansinho, aproximaram-se em silêncio, evitaram que acordassem e, abraçados, ela e eles, um só corpo, um só amor, fuzilaram-nos, um a um, quatro flores, duas pétalas, um horror.
Sorrateiro, ali ao lado, violino entre galhos, um pássaro, que a tudo assistia, conformou-se em não ser gente, adorou ser pássaro e, livre, livre, cantou como poucos cantam num dia assim: que o inferno lhes seja breve.
(Transcrito de Contos de bom humor. (Parte II - Outros Contos) - Belo Horizonte, 2007. Edições Hematita, 128 páginas)
sexta-feira, 16 de julho de 2010
segunda-feira, 12 de julho de 2010
Ficavam dizendo que o cabelo dele tinha cor de bosta. Cantarolavam musiquetas insultantes. Principalmente quando todos do bairro iam vender amendoins torrados, frutas e pássaros silvestres em caixinhas. Ele não temia comentários torpes, que traziam os colegas diariamente. Cresciam assim, ora em estações quentíssimas, ora em frio de congelar pingüim que mesmo arrepiados, andavam unidos barulhentos e sem camisas (isso é que era realmente complicado).
Se vão, entre algumas espaçadas árvores da meio íngreme montanha. Longa pastagem dos seus sonhos. Mãos dadas, leveza no rosto. A catatonia foi deixada pros “aís”. São só regato e doçura nos olhos e bocas... corpo inteiro. Não falam: “beije-me, beije-me, subamos!” Um olha pro outro e não fala, pensa como se estivesse falando:
-eles podem acreditar, nosso bebê terá a graça dessa clara neblina, fora do mundo. Lá embaixo, o outro rapaz , triste, imagina a volta dela para seus braços.
-eles podem acreditar, nosso bebê terá a graça dessa clara neblina, fora do mundo. Lá embaixo, o outro rapaz , triste, imagina a volta dela para seus braços.
domingo, 11 de julho de 2010
bege bem fosco num quarto estreito romeu coloca audazmente
o relógio à beira da cama no chão pois não tinha criado mas le
mbrara que nem precisava porque ia acordar bem cedo para
aproveitar o dia como havia aprendido num livro com uma po
bre magra personagem da clarice lispector
era dia de semana
não era domingo e se um temporal atrever o dia ?
até da solidã
o se aproveita.
o relógio à beira da cama no chão pois não tinha criado mas le
mbrara que nem precisava porque ia acordar bem cedo para
aproveitar o dia como havia aprendido num livro com uma po
bre magra personagem da clarice lispector
era dia de semana
não era domingo e se um temporal atrever o dia ?
até da solidã
o se aproveita.
sexta-feira, 9 de julho de 2010
poema
Vamos produzir escadas!
Não ter que lavá-las escaldá-las depois
Será o impossível.
Vamos produzir escadas!
Cultivar o movimento,
Meio transversal,
A vontade de subir aos céus e descer ao
Inferno será talvez a metáfora da
Vida cotidiana.
Vamos produzir escadas!
Vamos produzir escadas!
Deixá-las pra posteridade,
Entrar numa repetição
foto e poema : isaias
terça-feira, 6 de julho de 2010
lugares
Lugares
Eustáquio é do interior, mas não do interior muito longe. Inácia de Carvalho dá a impressão de ter uma só rua, calçada e poeirenta, com buracos poucos. Engraçado como nos observam, calados, com um estado único de paciência e desânimo. Eustáquio é mais um dessas bandas e quer partir, e não se escandaliza nunca com os biscoitos, café com leite, queijo fresco, cajueiro abarrotado...
Quer ir embora pra BH. Quer ir embora, e olhar pra trás é ser paspalho, retrógrado, nostálgico. Segue, então, estrada afora. No retrovisor do caminhão verde de boleia descascada, expressa a dúvida leve de tudo. Chega logo no trevo de entrada para várias cidades. Confuso, pergunta a uma moça com destrutiva face de arrogância:
- ôpa, senhora, sabe me dizê onde fica belorzonte?
- eu sou daqui, mas nem eu nem você sabemos onde estamos.
foto e miniconto : isaias
domingo, 4 de julho de 2010
Por vezes incognoscível
Álvaro e Cíntia iam pra lá quando se sentiam serrados ao meio. Criaram um refúgio incólume, um ninho de vinho e incenso, quase uma homenagem a Eros que não conheciam. Lá, eles também fariam planos quase paranormais e, frente a frente, sorriam de si mesmos, aí paravam e, com voracidade subumana, aniquilavam seus desejos. Depois iam embora. Na volta a este lugar, só mudavam as queixas: os sorrisos e as risadas continuavam as mesmas. Não saturavam as formas animais de partir pros arranhões e mordidas. Cada beijo parecia ter sido reprimido há meses. Com isso, avolumavam as partes, as vontades pareciam durar até não mais existir fim esperado. Naquela cabana não faziam nada, além de desfragmentarem- se.
foto e miniconto : isaias
sexta-feira, 2 de julho de 2010
segunda-feira, 28 de junho de 2010
poema de um amigo escritor : renato sampaio
VAGA APARIÇÃO
Senhor, são os remos ou são as ondas
o que dirige o meu barco?
Emílio Moura
Na manhã do primeiro canto,
vinhas correndo
e em tuas mãos
conduzias um incerto alvorecer.
Naquela aparição conceberam-se os indecifráveis símbolos
da primeira dor que encontramos e não esquecemos;
eras esperança e compreensão,
infância coberta de misticismo
saudando o anunciado alvorecer.
No enigma de teus passos imprecisos,
eclodiram flores vagueando
as horas e seu espaço,
a miragem e seu contrário.
E assim caminhamos juntos
até mesmo ultrapassar
as impossíveis encruzilhadas
que teus passos encurtavam;
passando pelos dias sem saber o retorno,
passando pelas horas sem conceber as distâncias,
sem saber quem éramos e nem para onde;
passando, passando,
sem saber se à procura da vida ou de nós mesmos.
o link do site do renato sampaio está no final da página
Senhor, são os remos ou são as ondas
o que dirige o meu barco?
Emílio Moura
Na manhã do primeiro canto,
vinhas correndo
e em tuas mãos
conduzias um incerto alvorecer.
Naquela aparição conceberam-se os indecifráveis símbolos
da primeira dor que encontramos e não esquecemos;
eras esperança e compreensão,
infância coberta de misticismo
saudando o anunciado alvorecer.
No enigma de teus passos imprecisos,
eclodiram flores vagueando
as horas e seu espaço,
a miragem e seu contrário.
E assim caminhamos juntos
até mesmo ultrapassar
as impossíveis encruzilhadas
que teus passos encurtavam;
passando pelos dias sem saber o retorno,
passando pelas horas sem conceber as distâncias,
sem saber quem éramos e nem para onde;
passando, passando,
sem saber se à procura da vida ou de nós mesmos.
o link do site do renato sampaio está no final da página
domingo, 13 de junho de 2010
é...
contudo, estamos
pré-vistos
por um lado e por
outro
somos retrógrados,
nossas atitudes são
fulminantemente
retrógradas
vamos todos ouvir o
que somos e
continuar assim;
perniciosos, com todas
teorias
e remando na maré contrária,
lutando muito bem por relações
de poder tão importantes
quanto fúteis.
somos todos, retrógrados.
foto e poema : isaias
tempo
sexta-feira, 11 de junho de 2010
a felicidade também dói
Ela ouviu que era jazz e saiu correndo atrás para ver onde isso ia parar. Acabou chegando em um barzinho até simpático, com um jeans rasgado, tênis velho nos pés, um copo de suco na mão que acabara de pedir (porque estava sofisticada essa semana) e uma dor no peito a cada vez que o sax ia à boca do homem em cima do palco. Doía tanto que ela até sorria. Estava transbordando felicidade, pois sabia que intensidade é algo que se conquista, se aloja dentro do peito e permanece.
texto : ludmila barbosa
foto : isaias de faria
quinta-feira, 10 de junho de 2010
ancião pintor
o mesmo casaco/
diferentes invernos a
fio/
diferentes tintas
foram feitos quadros
poema:isaias
diferentes invernos a
fio/
diferentes tintas
foram feitos quadros
poema:isaias
terça-feira, 8 de junho de 2010
um poema de bárbara lia
Decreto:
Proibido derrubar
qualquer árvore
(exceto para
construir
berços
e violinos)
Proibido derrubar
qualquer árvore
(exceto para
construir
berços
e violinos)
quinta-feira, 3 de junho de 2010
haroldo de campos
" a educação dos cinco sentidos é trabalho de toda a história universal até agora"
karl marx, 1844
Li o livro " a educação dos cinco sentidos" de Haroldo de Campos a uns seis anos atrás e muitos poemas me fizeram refletir, na época. Mas agora, relendo, um poema me tocou muitíssimo. Lembro que não me havia tocado. Creio, um pequeno amadurecimento intelectual me proporcionou centrar o pensamento no que pede a reflexão no poema. Mas vamos a ele. Deleitem- se com esta obra prima de Haroldo de Campos:
Mencius: teorema do branco
o inato se chama natureza
o chamar-se natureza do inato
é o mesmo que o chamar-se branco do branco
o branco da pena branca
é igual ao branco da neve branca?
é igual ao branco do jade branco?
de quantos brancos se faz o branco?
segunda-feira, 31 de maio de 2010
quarta-feira, 26 de maio de 2010
terça-feira, 25 de maio de 2010
Nietzsche (para se pensar) filosofia é para jovens?
(…) Essa vida tal como a vives atualmente, tal como a viveste, vai ser necessário que revivas mais uma vez e inúmeras vezes; e não haverá nela nada de novo, pelo contrário! A menor dor e o menor prazer, o menor pensamento e o menor suspiro, o que há de infinitamente grande e de infinitamente pequeno em tua vida retornará e tudo retornará na mesma ordem – essa aranha também e esse luar entre as árvores e esse instante e eu mesmo! A eterna ampulheta da vida será invertida sem cessar – e tu com ela, poeira das pedras! (NIETZSCHE, 2006, p. 201),
domingo, 23 de maio de 2010
Por sua natureza fragmentária, a fotografia permite-nos a reavaliação de uma
realidade, pela recuperação de valores perdidos na invisibilidade do convívio
cotidiano. A fotografia lida – o tempo todo – com o corriqueiro e o
preexistente, comprometida com a constante reinvenção dos espaços e com a
construção de uma poética do banal.” (HUMBERTO, 2000, p. 41)
quarta-feira, 19 de maio de 2010
walter benjamin
"Cada manhã recebemos notícias de todo o mundo. E, no entanto, somos
pobres em histórias surpreendentes. A razão é que os fatos já nos chegam
acompanhados de explicações. Em outras palavras: quase nada do que acontece
está a serviço da narrativa e quase tudo está a serviço da informação. Metade da
arte da narrativa está em evitar explicações. [...] O extraordinário e o miraculoso
são narrados com a maior exatidão, mas o contexto psicológico da ação não é
imposto ao leitor. Ele é livre para interpretar a história como quiser, e com isso
o episódio narrado atinge uma amplitude que não existe na informação"
(BENJAMIN, 1994, p.203).
pobres em histórias surpreendentes. A razão é que os fatos já nos chegam
acompanhados de explicações. Em outras palavras: quase nada do que acontece
está a serviço da narrativa e quase tudo está a serviço da informação. Metade da
arte da narrativa está em evitar explicações. [...] O extraordinário e o miraculoso
são narrados com a maior exatidão, mas o contexto psicológico da ação não é
imposto ao leitor. Ele é livre para interpretar a história como quiser, e com isso
o episódio narrado atinge uma amplitude que não existe na informação"
(BENJAMIN, 1994, p.203).
terça-feira, 18 de maio de 2010
quarta-feira, 12 de maio de 2010
resposta de marcelo coelho a jovino machado. entrevista na íntegra no blog do jovino.
02: Gosto se discute? Porque?
Sim, pois gosto muda, gosto se aprende, gosto evolui... não é algo que esteja inscrito no DNA de uma pessoa, como provavelmente está a ojeriza a cebola ou alho
Sim, pois gosto muda, gosto se aprende, gosto evolui... não é algo que esteja inscrito no DNA de uma pessoa, como provavelmente está a ojeriza a cebola ou alho
terça-feira, 11 de maio de 2010
quando falo bem (poema de victor meira)
o amor
é o que eu digo quando me perguntam
- como tá a moça?
vai virando isso
e é do que eu vou me convencendo
porque vai se criando
quando falo bem
amo mais
amo menos quando digo que tô cansado
sinto que sou sincero todas as vezes
mesmo que eu fale um hoje, outro amanhã
é isso que eu explico, o amor,
quando me perguntam
- como tá a moça?
victor meira escreve em seu blog : quadrado vermelho.linkado aí ao lado.
é o que eu digo quando me perguntam
- como tá a moça?
vai virando isso
e é do que eu vou me convencendo
porque vai se criando
quando falo bem
amo mais
amo menos quando digo que tô cansado
sinto que sou sincero todas as vezes
mesmo que eu fale um hoje, outro amanhã
é isso que eu explico, o amor,
quando me perguntam
- como tá a moça?
victor meira escreve em seu blog : quadrado vermelho.linkado aí ao lado.
domingo, 9 de maio de 2010
isso ?
foto : isaias
"O objetivo da arte é fornecer a sensação do objeto tal qual como visto, não como reconhecido. A técnica da arte é tornar as coisas não-familiares, tornar as formas obscuras, de modo a aumentar a dificuldade da duração da percepção. O ato da percepção na arte é um fim em si mesmo,e deve ser prolongado. Na arte, é a nossa experiência do processo de construção que conta, não o produto finalizado."
do livro: a maquina de esperar. pag. 163
de maurício lissovsky
obs minha : bem kantiano o trecho do livro.
postagem dedicada ao amigo poeta cássio amaral
"são estes os dois caminhos da fotografia. cabe a mim escolher, submeter o seu espetáculo ao código civilizado das ilusões perfeitas ou enfrentar nela o despertar da inascessível realidade"
roland barthes - a câmera clara
"mas não são todas estas coisas puros milagres ? onde começa este constituir de objetividades e onde cessa ?"
husserl
foto : isaias
p.s: sobre a frase do r.barthes, eu fico com a segunda opção.
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